Me deixem só

Não

Não tenho bens e nem vontade, sou só e me basta nessa vida desgraçada que minha mãe me deu com todo seu amor e carinho mesmo não querendo pari mais um dos seus dezessete filhos, que secaram todo o seu leite e suas energias feito uma vaca reprodutora mulher guerreira, pobre nordestina analfabeta , vinda da seca em busca de esperanças nessa metrópole assassina de almas puras e enfraquecidas pelas morais dessa burguesia paulistana que nunca a colheu nos seus oitenta e quatro anos de sofrimentos ininterruptos brutos feitos rochas pontudas mais que espinhos de sua cidade natal na paraíba.

Não tenho lar, nem um pedaço de chão sujo, molhado, fedido para me deitar por mais exausto que esteja de tanto caminhar por dias e dias nas ruas e calçadas desta cidade cinza que cheira a chorume vindos das latas e sacos de lixos jogadas como se fossem prêmios aos famintos em busca de alimentos que se devoram como se fosse cachorros e porcos desesperados e cegos serem desprezíveis e invisíveis aos olhares iluminados pelos aparelhos paralisantes com cérebros congelados e ocos sem sentimentos e nem almas todas trajadas de grifes produzidasnas indústrias dos sinhozinhos milionários a custas de trabalhos escravos.

Não grito.

Nem falo baixinho paraque escutem o meu gemido de fome e dor nesse inferno escuro semfuturo nenhum,um buraco sem luzonde caioa todo instante que mais parece um abismo onde ouçovozes desesperadas pedindo socorro por estarem vivas mesmo conscientes em seus pesadelos de que jamais voltarão a ter misericórdia perdão de toda santidade qual for a religião e crença, a morte dada como certa para os fracos condenados, apenas por respirarem o mesmo oxigênio produzido propositalmente para exterminar a humanidade nefasta que sempre duvidou que um dia pagaria a conta do erros cometidos por todo e sempre AMÉM.

Não mexa comigo.

Me deixem só basta! Me deixem só e basta!

A solidão me faz bem , virou minha companheira de silencio e agonia frigida onde contos os segundos infinitos do universo até ficar confuso em meus sentimos e sentidos onde minha voz não tem som quando dormindo levanto e me deparo com minha imagem no espelho do banheiro desesperado me chamando para o desconhecido.

Queromorrer com a minha agonia que não vai embora nem quando desmaio sem consciência de onde estoue nem para onde vou.

Quero morrer ,se é que a morte é uma solução para acabar com tudo que me persegue e me aflige a cada respirada desse veneno social que aos vômitos empurra hipocrisia em seus lares chiques cheiros com bebidas importadas e mesas fartasservidas pelos empregados favelados capachos heranças malditas de nossa colonização que se arrasta nos planaltos deste Brasilmais verde e amarelo e simvermelho de sangue que desce do morro por conta das balas assassinas em nome da segurança nacional.

Em nome da segurança nacional!!! Que se foda a segurança nacional porra!!!

Segurança para quem tem medo e se tem medo é por que tem culpa por merdas feitas as custas da miséria que perpetua através dos controles governamentais com apoio dessa mídia podre bancadas pelas propagandas capitalistas que emburrece nossas crianças por gerações e gerações, transformando-as em paus mandados desse sistemas.

Sou favela sim e ai? Sou barraqueiro sim e dai ?

A favela nunca me deixou e nunca deixarei me barraco em mim impregnado nas minhas ações e gestos e falas e gritos.

Não irei pedir ajuda e nem arrego para quem me vê todos os dias e sempre me pergunta semao menos nunca ter olhado no meu rosto de pele grossa envelhecido carregado de rugas e cicatrizes desenhadas pelos tropeços da vinda dura e calejada nesses cinquenta anos tentando esconder meu olhar baixo envergonhado sem ter culpa por nada ter feitoe ter feito nada por merecer por não ter seguido a cartilha ditada por esse sistema corrompido, impiedoso e cruel.

Não fale comigo agora que estou surtando por conta das minhas convulsões mentais com a boca seca e cheia de fedidascom hálito do cão vira-lata meu único companheiro de todos o dias atazanado por uma coceira infernal sarnenta onde pele e osso são visíveis a espera do fim.

Nãoé não

Basta, não me toque, essa é a aminha resposta para a suas perguntas sem sentidos ou melhor com todos os sentidosmisericordiosos escondidos por de traz dessa bata de algodão branca e suja carregadas de intenções carnais reveladas nos seus olhares angelicais com seus discurso harmoniosos na tentativa de trazer o impossível para o meu espírito desesperado que nõa sabe o que é ter paz nem nos momentos mais silencioso das tempestadessalgadas de meus olhos aos prantos em busca de fugas impossíveis.

sem que me toque em minha pele suja coberta de coceira e feridas podres expostas ao tempo e ao Deus dará.

Não me fale em Deus,que sei que ele anda muito ocupado com tanta desgraça no MUNDO por conta dos homens desgraçados cegos surdos mudos e estúpidos.

Deus não vai me salvar porque não quero e não vou permitir que me salve enquanto eu não pagar meus pecados cometidos desde a minha infânciade péssujos no barro vermelho daquele quintal onde a felicidade morava e nunca saiu de lá.

Eu sai.

Eu mudei e envelheci, triste e sem saudades, sem memórias, sem esperanças.

Nunca tivee nem quero ter esperança.

Esperança, esperança .

NUNCAAAAA!!!!

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